segunda-feira, 18 de setembro de 2017

11º dia – Câimbra no acesso a base das Torres del Paine. Frustação e Juizo.

                                                                                       Introdução      Dia Anterior     Dia Seguinte

O relato de hoje é um misto de frustação com juizo. Tive que tomar uma decisão difícil e abandonar a caminhada até a base das torres.  

Mas, depois de algumas horas pensando, o esforço valeu a pena. Pelo menos para saber os meus limites (corpo e mente). Vamos ao posto do dia.

A previsão do tempo de ontem dava conta que hoje não haveria vento aqui (raridade, para o lugar que chega a ter 100 km/h). Quanto ao clima, uma incógnita. Falava em chuva, nuvens e sol.

Acordei cedo. Dei uma saída no lado de fora da pousada e não estava tão frio. As torres ainda não apareciam, mas um sol tímido queria abrir. Isso era 7.30h




Lá pelas 8h tomei um café simples para não pesar no estomago.


Estudei bem o percurso e estava diante de 10,5 Km de ida e volta, dividido em 3 setores. Pelo relato dos blogs, a parte final era é complicadíssima (800m morro a cima, numa inclinação de uns 45 a 50 graus). Os dois trechos anteriores, muitos falavam que era fácil, conforme abaixo. Me condicionei por estas informações.


Lá pelas 8:30h comecei a caminhada. Peguei a instrução no hotel. Eles falaram que deveria seguir para a Hosteria Las Tores e, atrás dela, seguir a trilha.


Fui caminhando (distante, uns 800m) e cheguei numa placa que dizia que deveria quebrar para a direita (aqui fui um dos meus erros... escrevo mais sobre isso abaixo)



Passei pela hosteria e não vi nenhuma trilha grande. Apenas um caminho bem pequeno no chão. Olhei pra traz e vinha um grupo de uns 5 Paraguaios. Perguntei ao líder do grupo e ele me falou que estávamos certo. Que deveríamos subir o morro. 

Dai começamos a andar e vi que era roubada. Sabia que tinha um riacho margeando a trilha. Escutei um barulho de agua a direita e fui até lá. Nada de caminho.


Voltei para o outro lado e subi mais ainda e encontrei um outro riacho, com um precipicio gigante. Porém, nada de caminho.


O desespero já batia, afinal, já era mais de 1h de caminhada, sem encontrar a trilha principal. Além disso, estava com medo de me perder.




Decidi regressar para a hosteria e perguntar o caminho (deveria ter feito isso e não ido atrás dos cavalos paraguaios). Aff!!!!

Quando estava descendo o morro avistei bem lá embaixo um grupo de pessoas e a trilha bem marcada. Agora era só descer o barranco e seguir o grupo.

Resumo, gastei 1,15h em vão. PQP, isso ia me fazer falta.



Desci e peguei a trilha do grupo. Passamos por uma ponte e, na sequencia, uma placa sinalizando que o acampamento Chileno (1ª parada, 5,5 KM distante) era pela direita, subindo uma BIG Montanha. Beleza, vou seguir o grupo. Tinha criança e senhoras. Se eles podem, eu também posso (pensei).




Gente, não parava mais de subir. Caminhava 5 minutos e parava 2 para descansar. Olhei pra tras e a paisagem era linda, com um lago ao fundo.




Continuei, mas estava muito difícil. Nesse ritmo, o percurso de 2h levaria umas 4h. Neste ponto pensei pela primeira vez em desistir e voltar por hotel.  


No entanto, eis que surge um atleta de montanha (sim o cara estava correndo morro abaixo, todo paramentado). Perguntei a ele se faltava muito para o acampamento Chileno. Ele disse: 10 minutos mais de subida e depois uns 30 de descida.  Isso me animou. Caminhei mais um pouquinho e cheguei no top, no vale do  acesso




Realmente, agora era morro abaixo. Continuei animado, mesmo sabendo que tudo que eu estava descendo, teria que subir. Avistei bem ao longo o acompanhamento Chileno.



Desci mais rápido e cheguei ao acampamento já passando das 12h. Ou seja, gastei 3.30h num percurso que deveria ser 2h em virtude do erro ao entrar na trilha (Valeu Paraguaios) e da dificuldade da subida (já estávamos a 300m acima do início do percurso). 




Parei para almoçar. Tinha um sanduba e um iogurte. A garrafa de 1,5l de agua já estava vazia. Abastecia ela no rio. Agua potável, bem geladinha. Enquanto isso um passarinho queria comer minhas migalhas.


Me preparei bem (agasalho), pois aqui já estava frio (uns 4 graus) em virtude de estar mais perto da montanha. Todo mundo que estava aqui saia para caminhar se agasalhando bem.



Estudei o mapa e vi que faltava o trecho 2 e trecho 3. O trecho 2 era mais 3,2Km. (segundo os blogs, um trecho mais fácil, de subida de uns 200m).  Partir já passando das 13h, confiante. No caminho encontrei um alce (ou será um veado?), com as torres já aparecendo entre nuvens.





Caminhei por uns 2Km e encontrei uma ribanceira para subir. Putz.  Quando fui fazer um esforço para passar por pedras, me deu uma câimbra danada na perna direita. Não conseguia me mexer. Fiquei parado alongando e esperando passar.  Tentei continuar mais não deu.  A dor era muito grande.
 

E agora? Continuar? Voltar? Que dilema. Nos dois casos minha perna já estava baleada. Fiquei parado e me bateu uma frustação danada. Me preparei para isso. Porque logo comigo?

Foi quando passou mais uma alma boa regressando do ataque a base das torres. Era um Chileno do bem. Ele me falou: Cara, tens mais uns 30 minutos de subida pela frente.  Depois, vem o trecho final (ataque a base das torres e a lagoa – aquele de 45 graus de inclinação). Eu tentei mais não consegui. Lá em cima está com muita neve e gelo, além de pedras gigantes. Subi uns 200m morro acima e desisti. Além disso, está tudo nublado por lá. Não vais ver nada.

Bom, pensei comigo mesmo e tomei a decisão ajuizada de interromper a caminhada e voltar, com um baita sentimento de frustação na cabeça.

Nessa altura minha perna já estava mais ou menos. Decidi regressa mais devagar, me apoiando mais na perna esquerda (a direita, de vez em quando, dava uma fisgada).


Voltei até ao acampamento Chileno. Parei para tomar água e pegar folego e comecei o regresso.

No meio da subida a perna esquerda começou com contração da coxa. Meu Deus, fudeu. Tinha uma subida imensa pela frente e as duas pernas baleadas.  Parei e lembrei que tinha DORFLEX na mochila. Abri e tomei logo 2 comprimidos. Esperei par fazer efeito (psicológico, uns 5 minutos) e voltei a caminhar, com o acampamento chieleno lá tras




Cheguei ao topo da montanha. Daqui pra frente, só morro abaixo. E não é que as pernas melhoraram mesmo? Olhei pro horizonte e havia muita coisa pela frente. Porém, eu já estava conformado com a decisão e comecei a apressar o passo, mesmo caindo chuva.





Quando me aproximava do hotel, olhei pra trás e vi que as torres já estavam sem tantas nuvens. Elas eram lindas. Aqui é assim. Todas estações e clima num mesmo dia. Cheguei no hotel já passando das 15:30h. Da janela do meu quarto eu conseguia avistar as torres.


Tomei um banho quente, comi algumas besteiras e fui me deitar. Me acordei lá pelas 18h com mais duas pessoas chegando no quarto. Santo descanso.

Fui para sala e comecei a escrever o blog do dia. Com falei, um misto de frustação com juízo. Conclui que cheguei ao limite do corpo e que não deveria me penalizar mais por isso. Pelo menos tentei...e agora sei que os 46 anos no lombo faz uma diferença incrível.  Hoje foram 17 km de caminhada.

Talvez tenha faltado planejamento aqui na preparação fisica de Floripa. Subir mais montanhas e não apenas caminhadas mais leves (no pano). Talvez tenha faltando maior sinalização no Parque. Sei lá.....

Galera, era isso por hoje. Fui no meu limite. Amanhã as caminhadas serão menores e de carro ainda aqui no Parque Nacional Torres Del Paine. Pelas previsões, será um dia de sol...

2 comentários:

  1. Luci, muitas vezes a superação é tomar a decisão certa, nem que ela seja desistir do plano inicial. Se cuida aí que precisamos de vc aqui. Bom regresso. Abraços

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    1. Olá Erika. É por ai. O que me matou fui a caminhada e subida de 1h em vão atras dos Paraguaios.

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